Municípios baianos com poucos habitantes investem mais de R$ 450 mil na contratação de artistas para São João
O São João da Bahia em 2025 promete uma ampla programação, com festejos confirmados em pelo menos 360 dos 417 municípios do estado. No entanto, dados relacionados às contratações de artistas têm gerado discussões e atraído a atenção do público, especialmente ao analisar os investimentos de cidades com menor população.
Um levantamento do BN, baseado em informações do Painel da Transparência dos Festejos Juninos do Ministério Público do Estado (MP-BA), revela casos notáveis. O município de Gavião, por exemplo, que conta com 4.360 habitantes segundo o IBGE, planeja investir R$ 1.319.000,00 em seu São João. A totalidade desses recursos é de origem municipal. O contrato mais vultoso é o do cantor Eduardo Costa, com show previsto para 29 de junho, no valor de R$ 490 mil. Em seguida, aparece Felipe Araújo, com cachê de R$ 350 mil para apresentação em 28 de junho. A programação em Gavião inclui ainda shows de Canários do Reino, Theuzinho, La Fúria, Forró Pegada das Antigas e Malvadinhos do Forró.
Entre as dez cidades baianas de menor população, Contendas do Sincorá também se destaca pelo volume de investimentos em contratações artísticas. O município, com apenas 4.333 moradores, destinou R$ 400 mil para o show da dupla sertaneja João Bosco e Vinícius, marcado para 22 de junho. Os recursos, assim como em Gavião, são integralmente municipais. Até o momento, o total em contratações na cidade soma R$ 760 mil, valor que corresponde a 38,24% da quantia direcionada à saúde pelo município em 2025 (R$ 1.987.244,59).
A análise do BN se estendeu a municípios com menos de 10 mil habitantes. Cardeal da Silva, com 8.365 residentes, também figura na lista com altos gastos na festa. Apenas com verba municipal, as contratações alcançaram R$ 1.875.000,00, sendo Henry Freitas (R$ 565 mil) e Iguinho & Lulinha (R$ 400 mil) os artistas com cachês mais elevados pagos com recursos próprios. Com verba estadual, a contratação mais cara foi a do cantor Pablo, por R$ 500 mil. O fundo municipal de saúde de Cardeal da Silva registrou pagamentos de R$ 4.286.518,39 de janeiro a maio, enquanto a educação, no mesmo período, teve despesas de R$ 9.823.861,05, conforme dados do portal da transparência local.
Em Ouriçangas, município com 7.716 habitantes, o investimento municipal total atingiu R$ 948 mil, com o cachê mais caro pago a Amado Batista (R$ 418 mil). Já em Nova Itarana, que tem 7.780 moradores, a maior contratação (Eduardo Costa por R$ 490 mil) foi financiada pelo estado. Morpará (7.966 habitantes) tem, até o momento, quatro shows confirmados, todos com verba municipal, destacando-se Nadson O Ferinha com R$ 300 mil. Situação semelhante ocorre em Nova Fátima (7.967 habitantes), onde o estado financiou o show de Tayrone por R$ 300 mil.
Na outra ponta, entre as cidades de maior porte da Bahia, algumas aparecem com investimentos significativos, justificados em parte pelo intenso fluxo turístico. Jequié, com 158.813 habitantes, ocupa o quarto lugar no ranking do MP-BA de maiores investimentos municipais, destinando R$ 6,1 milhões para a festa. Com 25 contratações previstas, o maior cachê é o de Wesley Safadão, orçado em R$ 1.100.000,00. Santo Antônio de Jesus (103.055 habitantes) investiu R$ 6,35 milhões, com 14 atrações confirmadas até o momento, incluindo Ana Castela e Simone Mendes, ambas com cachês de R$ 800 mil. Irecê, com 74.507 moradores, direcionou R$ 6,960 milhões para o São João, tendo Simone Mendes com o cachê mais alto (R$ 800 mil). A liderança em investimento no São João baiano é de Cruz das Almas, que, apesar de ter uma população menor (60.348 habitantes), projeta gastar R$ 9,29 milhões, integralmente com verba municipal.
Essas quatro cidades (Jequié, Santo Antônio de Jesus, Irecê e Cruz das Almas) compartilham a característica de serem polos de atração turística durante o São João na Bahia. De acordo com a Setur, o estado recebeu 1,7 milhão de visitantes nos festejos juninos do ano passado. Em 2024, cidades como Cruz das Almas, Amargosa, Lençóis, Senhor do Bonfim e Ibicuí registraram ocupação hoteleira máxima, evidenciando também a crescente procura por aluguel de casas por temporada.
