Brasil: Quase 30% dos Cuidadores Usam Castigo Físico em Crianças, Apesar da Lei

Um estudo alarmante divulgado nesta segunda-feira (1º) pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Instituto Datafolha, revela que 29% dos responsáveis por crianças de até seis anos no Brasil admitem o uso de castigos físicos como método de disciplina. Deste total, 13% afirmam empregar a prática com frequência.
A pesquisa, que entrevistou 2.206 pessoas em todo o território nacional, com foco em 822 cuidadores diretos de crianças na primeira infância, faz parte da campanha Agosto Verde, dedicada a promover a conscientização sobre a relevância dessa fase crucial do desenvolvimento humano.
Os dados mostram ainda que 17% dos cuidadores consideram os castigos físicos uma forma eficaz de disciplina, enquanto 12% reconhecem a utilização da agressão mesmo cientes de sua ineficácia. Gritos e discussões também foram relatados por 14% dos participantes.
Essa realidade contrasta com a Lei nº 13.010/2014, conhecida como "Lei da Palmada", que desde 2014 proíbe qualquer tipo de castigo físico ou tratamento cruel contra crianças e adolescentes, prevendo medidas socioeducativas para os infratores.
Mariana Luz, diretora-executiva da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, critica a persistência de um "padrão cultural enraizado", afirmando que o Brasil ainda carrega o estigma de "eu apanhei e sobrevivi" e de ver a criança como inferior. Segundo ela, a agressão física não é um método educativo que ajuda ou resolve problemas.
Embora o diálogo e a explicação sobre erros sejam os métodos disciplinares mais empregados (96%), seguidos pela tentativa de acalmar a criança (93%), o estudo aponta que 40% dos que usam agressão acreditam que ela gera mais respeito à autoridade. Por outro lado, 33% reconhecem que a prática resulta em comportamentos agressivos, e 21% admitem que pode levar à baixa autoestima e à falta de confiança na criança.
A pesquisa também evidenciou um desconhecimento generalizado sobre a primeira infância. Apenas 2% dos entrevistados definiram corretamente o período (nascimento aos seis anos), e 84% não sabem que esta é a fase mais importante para o desenvolvimento humano, quando 90% das conexões cerebrais se formam.
Contrariando evidências científicas, 41% dos entrevistados acreditam que o pico do desenvolvimento ocorre na vida adulta, e 25% apontam a adolescência.
Mariana Luz reforça a necessidade de intensificar o debate público e as campanhas de conscientização, citando estudos que demonstram que cada dólar investido na primeira infância pode gerar um retorno social de até sete dólares em áreas como educação, saúde e segurança.