Tarcísio de Freitas: discurso pró-Bolsonaro em ato na Paulista acende debate sobre 2026 e radicalização política

Publicado em 08/09/2025 às 10:06:25
Tarcísio de Freitas: discurso pró-Bolsonaro em ato na Paulista acende debate sobre 2026 e radicalização política

A fala do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), neste domingo (7), gerou reações diversas, sendo vista por bolsonaristas como um aceno à família Bolsonaro e à militância, enquanto integrantes do governo Lula (PT) interpretaram o discurso como um passo estratégico para uma eventual candidatura à Presidência em 2026.

Durante um ato na Avenida Paulista, Tarcísio defendeu uma anistia “ampla e irrestrita”, afirmou que Bolsonaro deveria ter a permissão para concorrer em 2026 e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “ditador”, denunciando uma “tirania”.

Aliados de Lula avaliam que Tarcísio busca se consolidar como herdeiro político de Jair Bolsonaro, atendendo a cobranças de infidelidade. As declarações também afastariam a imagem de moderado do governador, sinalizando um momento de “tudo ou nada” diante da iminente condenação de Bolsonaro no STF. Integrantes do governo federal minimizaram a participação nos atos bolsonaristas, indicando uma perda de mobilização, e criticaram a defesa do governo dos Estados Unidos em meio à imposição de tarifas sobre produtos brasileiros, exemplificada pela presença de uma grande bandeira americana no evento.

Um interlocutor do presidente Lula avalia que esses gestos afastam a direita bolsonarista dos interesses da população ao priorizar o governo americano em detrimento de melhorias sociais. A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) criticou Tarcísio em redes sociais, acusando-o de defender “traidores da pátria” e a impunidade de quem conspirou contra a democracia, classificando a “tirania” como aquilo que eles queriam impor ao país, não as decisões do STF.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), declarou que Tarcísio “rasgou qualquer fantasia de moderado”, assumindo o discurso da direita bolsonarista e antidemocrática, o que, segundo ele, terá um alto preço. O deputado petista também acusou o governador de tentar intimidar Moraes com um “ataque frontal ao STF”, configurando possível coação no curso do processo.

Aliados de Bolsonaro e do governador elogiaram a escalada de tom, que contrasta com seu discurso anterior mais conciliador. A mudança, às vésperas de uma provável condenação de Bolsonaro, surpreendeu alguns, mas outros consideram o momento oportuno. Há uma divisão interna nas avaliações: alguns veem como um movimento estratégico de “esticar”, enquanto outros acreditam que poupar o STF não trouxe os resultados esperados. A leitura predominante é que, ao equilibrar diálogo com ministros do STF e gestos para o bolsonarismo, Tarcísio precisava priorizar um aceno à militância no ato em São Paulo.

Um integrante do centrão minimiza o mal-estar com o STF, argumentando que Tarcísio precisa se consolidar como herdeiro político de Bolsonaro para conquistar seus votos, podendo ajustar o discurso posteriormente. Críticas têm sido direcionadas a movimentações de seu entorno para que ele seja o sucessor de Bolsonaro, visto como deslealdade por parte da família e apoiadores. Por isso, Tarcísio reforçou em sua fala que Bolsonaro é o candidato da direita em 2026.

Paralelamente, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentou uma nova versão de projeto de lei para anistiar presos e condenados dos ataques de 8 de janeiro, que incluiria a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. O projeto enfrenta resistência por sua amplitude, com baixa chance de aprovação. O Palácio do Planalto atua para impedir a aprovação, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (Republicanos-PB), cogita levar o tema a plenário para aliviar a pressão, embora reconheça que isso não deve ocorrer no atual contexto de julgamento de Bolsonaro no STF. Para um aliado de Lira, discutir o texto agora, após as declarações de Tarcísio, sinalizaria concordância com a radicalização contra o STF, algo com o qual o presidente da Câmara não compactua.