Canoísta britânico é suspenso após criar perfil de conteúdo adulto para financiar sonho olímpico

Publicado em 04/06/2025 às 17:34:50
Canoísta britânico é suspenso após criar perfil de conteúdo adulto para financiar sonho olímpico

A preparação britânica para os Jogos Olímpicos de Los Angeles foi marcada por um incidente no mínimo inusitado nesta quarta-feira (4). Kurts Adams Rozentals, canoísta vice-campeão mundial sub-23 na categoria C1 em 2023, foi suspenso pela Federação Britânica de Canoagem após recorrer à criação de uma conta em uma plataforma de conteúdo adulto, o OnlyFans, como meio de financiar sua carreira esportiva.

Rozentals, de 22 anos, defende que a punição imposta pela entidade está diretamente relacionada à divulgação de seu perfil no OnlyFans em suas redes sociais, onde oferece acesso a fotos e vídeos mediante assinatura. A federação, contudo, não detalhou oficialmente os motivos específicos da suspensão.

"Estou sendo forçado a escolher entre as Olimpíadas e o OnlyFans. Foi a decisão mais difícil que já tomei", declarou Rozentals em entrevista à BBC. Ele explicou que a iniciativa de buscar fontes alternativas de renda veio após anos de dificuldades financeiras. "Minha mãe trabalhava 90 horas por semana, oficiais de justiça batiam à porta… Eu precisava encontrar um caminho para sustentar esse sonho."

A suspensão teve impacto imediato na trajetória do atleta. Além de ser afastado, Rozentals foi retirado do programa de classe mundial da Federação Britânica de Canoagem, que oferece uma bolsa anual de £ 16 mil (aproximadamente R$ 122 mil). O canoísta argumenta que esse valor é insuficiente para cobrir os custos com treinamento, viagens e moradia, especialmente considerando que muitos atletas de ponta residem em Londres, algo que ele afirma ser inviável devido à sua condição financeira.

Desde que começou a produzir conteúdo no OnlyFans no final de 2023, Rozentals relatou ter arrecadado mais de £ 100 mil (cerca de R$ 765 mil), um montante significativamente superior ao oferecido pelo programa da federação. Até o momento, ele conta com 39 vídeos e mais de 100 fotos publicadas.

Rozentals narrou que, em abril, recebeu um telefonema informando sua suspensão e a proibição de qualquer contato com outros atletas de elite ou membros da comissão técnica. "Eu congelei. Minha identidade, minha vida, é ser atleta e buscar o sonho olímpico", desabafou o canoísta.

Em resposta, a Federação Britânica de Canoagem emitiu um comunicado explicando que a suspensão é uma medida preventiva, descrita como um "ato neutro, projetado para proteger todas as partes e salvaguardar atletas, funcionários e voluntários, devido à natureza da alegação". A investigação completa do caso foi encaminhada ao Sport Integrity, serviço independente responsável pela apuração de questões de integridade no esporte britânico.

O Código Disciplinar de Atletas da federação lista entre as possíveis violações condutas como "uso ofensivo de redes sociais" e "comportamento indecente, ofensivo e imoral", infrações que podem levar à suspensão da seleção nacional.

Apesar da repercussão do caso de Rozentals, a prática de atletas recorrerem a plataformas de conteúdo pago para financiar suas carreiras não é inédita no esporte britânico e global. Em 2023, o saltador olímpico Jack Laugher, medalhista em Jogos, também criou uma conta similar para fãs em sua jornada rumo a Paris, onde conquistou bronze. Na época, o pai do atleta minimizou, afirmando que o conteúdo era inofensivo. Outros nomes, como a nadadora paraguaia Luana Alonso e a saltadora com vara canadense Alysha Newman, também aderiram a essas plataformas para complementar renda e viabilizar o alto rendimento, reacendendo o debate sobre os desafios e a sustentabilidade do financiamento no esporte de elite.