Vaticano tem relação de oito décadas com o futebol, estreitada por Francisco

Publicado em 07/05/2025 às 11:28:08
Vaticano tem relação de oito décadas com o futebol, estreitada por Francisco

Nesta quarta-feira (7), tem início o conclave que definirá o sucessor de Francisco, papa que estabeleceu forte conexão com o futebol. O próximo líder da Igreja Católica enfrentará o desafio de modernizar a instituição, tornando-a mais atraente para as novas gerações, uma busca que, durante o papado de Francisco, incluiu o esporte.

Embora não tenha sido o foco principal, o apreço do papa argentino, torcedor do San Lorenzo, pelo futebol, simbolizou a busca por uma Igreja mais leve e alinhada com os anseios do século 21. Um exemplo disso foi a bênção dada por ele à criação do primeiro time feminino do Vaticano em 2019.

A relação entre a Igreja e o futebol, no entanto, é anterior a este milênio. Os registros históricos das associações esportivas do Vaticano mencionam uma partida de "calcio florentino" em 1521, com a presença do Papa Leão 10 na plateia.

Já o futebol moderno tem seus primeiros registros após a Segunda Guerra Mundial, com um amistoso em 1946 entre funcionários do Vaticano e, no ano seguinte, a organização de um campeonato com quatro equipes.

A paixão pelo futebol se manifesta em todos os níveis, inclusive no Vaticano. Em uma final tensa entre equipes de diferentes setores, uma briga generalizada interrompeu a partida e resultou em uma pausa de duas décadas nas competições.

A partir de 1966, novos clubes foram fundados e, em 1972, uma liga foi estabelecida. Atualmente, o Vaticano possui três competições: uma liga, uma copa e uma supercopa, organizadas pela ASD (Associação Esportiva Amadora - Esporte no Vaticano), que também inclui outros esportes, como o atletismo. Os jogos são realizados em um campo próximo ao Vaticano, com vista para a Basílica de São Pedro.

O Vaticano também tem uma seleção, que fez sua primeira partida oficial em 1994 e, ocasionalmente, participa de amistosos. A equipe já foi treinada por Giovanni Trapattoni e mantém uma rivalidade amigável com Mônaco.

Os jogadores, funcionários da Santa Sé, não são cidadãos do Vaticano, que não é filiado à Fifa. No entanto, a federação prometeu realizar um jogo beneficente com estrelas do futebol mundial, atendendo a um desejo do Papa Francisco.

Segundo Gianni Infantino, presidente da Fifa, Francisco acreditava no poder do futebol para unir o mundo. Além disso, o papa apoiou a Clericus Cup, um campeonato entre seminaristas de todo o mundo, e impulsionou a criação do time feminino do Vaticano, que estreou em 2018 em um amistoso contra a Roma.

Francisco, durante seu papado, frequentemente destacava o "poder unificador do esporte" e a importância da "humildade para alcançar a vitória". João Paulo 2º também valorizava o esporte, recebendo delegações esportivas, como a do São Paulo em 1984.

O Fluminense possui uma relação ainda mais forte com João Paulo 2º, que recebeu uma camisa do clube durante sua visita ao Brasil em 1980. Após a visita, a torcida do Fluminense adotou a canção "A Bênção, João de Deus" como um mantra, especialmente em momentos de dificuldade ou celebração.

Em 2009, quando o Fluminense corria sério risco de rebaixamento, a torcida atribuiu a recuperação do time a um "milagre" de João Paulo 2º, que foi oficializado como padroeiro do clube.

Já o Corinthians, tradicionalmente ligado a São Jorge, precisou da intervenção de outro papa para preservar o culto ao santo. Em 1969, Paulo 6º promoveu uma reordenação do calendário litúrgico, retirando São Jorge da lista oficial de santos.

Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo e torcedor do Corinthians, intercedeu junto ao papa, argumentando que São Jorge era muito popular no Brasil, especialmente entre os torcedores do clube. Paulo 6º concordou em manter o santo nos calendários do Brasil e da Inglaterra.

A relação entre fé e futebol é evidente, tanto no catolicismo quanto em outras religiões. Como disse o monsenhor Claudio Paganini, "há tempo para ir à missa, almoçar e depois ir ao campo".