Moraes se irrita com ex-comandante do Exército em 1º dia de depoimentos da trama golpista: “Antes de responder, pense bem”

Publicado em 19/05/2025 às 21:59:14
Moraes se irrita com ex-comandante do Exército em 1º dia de depoimentos da trama golpista: “Antes de responder, pense bem”

Uma audiência do processo que apura a trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcada por um momento de tensão nesta segunda-feira (19), durante o depoimento do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, demonstrou irritação com a fala do general, que figura como testemunha de defesa e acusação.

A interrupção ocorreu quando Freire Gomes comentava o papel do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Segundo relatos da audiência, Moraes considerou que a versão apresentada pelo general divergia de seu depoimento anterior à Polícia Federal, o que gerou a reação do magistrado.

Em um momento de confronto direto, Moraes advertiu o general sobre a necessidade de dizer a verdade. "Quero advertir a testemunha, ela não pode omitir o que sabe. Vou dar à testemunha a chance de dizer a verdade, não pode agora perante o STF falar que não lembra, que talvez...", disse o ministro, ressaltando a experiência e preparo de Freire Gomes como general para lidar sob tensão.

A divergência se centrou em um questionamento do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre se Garnier "havia se colocado à disposição para implantar essas medidas", referindo-se ao plano golpista. Inicialmente, Freire Gomes descreveu as reuniões com Bolsonaro, afirmando que cada um expressava sua opinião e que ele próprio (Freire Gomes) e o ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, foram contrários aos planos. Sobre Garnier, ele disse que o almirante "apenas demonstrou um respeito ao comandante em chefe das Forças Armadas e não tinha opinião naquele momento".

Moraes então confrontou o general com sua declaração à Polícia Federal, onde, segundo o ministro, Freire Gomes havia afirmado que ele e Baptista Junior foram "contundentes ao conteúdo exposto" (da tentativa de golpe), e que Garnier "teria se colocado à disposição do presidente da República". O ministro chegou a exibir trechos do depoimento do general à PF e alertou sobre o artigo 342 do Código Penal, que trata do crime de falso testemunho, com pena prevista de três a oito anos de prisão. "Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando a verdade aqui", indagou Moraes.

Após a advertência, Freire Gomes reafirmou sua posição. "Com 50 anos de Exército jamais mentiria", declarou, reiterando que ele e Baptista Junior se posicionaram contrariamente e que ele estava focado na sua própria fala. Sobre Garnier, ele manteve que o almirante "ficou com essa postura de ficar com o presidente", mas ressalvou: "Eu não posso inferir o que ele quis dizer com o estar com o presidente". O general insistiu que não omitiu dados e confirmou: "ele disse que estava com o presidente, a intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe". Gonet, por sua vez, insistiu no questionamento sobre a disposição de Garnier aos planos golpistas.

A audiência desta segunda-feira marcou o início da oitiva de testemunhas de defesa e acusação no processo que investiga a suposta tentativa de golpe. A sessão não foi transmitida publicamente pela TV Justiça ou YouTube. Além de Freire Gomes, foram ouvidos Clebson Ferreira de Paula Vieira, ex-integrante do Ministério da Justiça; Adiel Pereira Alcântara, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal; e Éder Lindsay Magalhães Balbino, responsável por uma empresa contratada pelo PL.